Há décadas nós ouvimos que um dia haveria uma escassez de profissionais de TI no Brasil, pois o aumento da demanda não seria suprido pela baixa produção de mão de obra especializada através do sistema educacional, sejam as universidades, sem os cursos técnicos, tecnólogos e profissionalizantes.
Mesmo com tanto alarde, o problema não apenas persiste, como vem se intensificando.
Segundo artigo da CIO From IDG que pode ser lido na íntegra aqui, um estudo da Trampos.co realizado em 2019 avaliou mais de mil empresas com vagas abertas no setor de TI, entre startups, agências, produtoras e empresas tradicionais, concluiu que a demanda por mão de obra especializada deve continuar a crescer, o que fará com que os problemas em recrutamento desse tipo de profissional tendem a aumentar se algo não for feito.
Vamos conhecer um pouco da educação tecnológica no Brasil.
A educação tecnológica no Brasil
O processo de industrialização no Brasil ocorreu de forma tardia. Enquanto a Europa vivia a I Revolução Industrial já no século XVIII, nosso país teve suas primeiras indústrias com a chegada da Família Real por aqui, em 1808.
De 1808 a 1930, as primeiras fábricas foram surgindo, porém o café manteve-se como nosso principal produto de exportação por muitas décadas. No ano de 1844, surge a Tarifa Alves Branco, que taxava produtos importados, o que por sua vez trouxe um ambiente favorável à indústria nacional, que focava em produtos manufaturados, como tecidos, ferramentas e velas.
No final do século XIX, o país começa a receber as novas tecnologias do primeiro mundo, como a eletricidade e o telefone. O Barão de Mauá, empresário e político brasileiro, tem papel preponderante no aumento da atividade industrial brasileira.
No governo de Getúlio Vargas, na década de 1930, é que se dá de fato o processo de industrialização do Brasil, com o êxodo rural e a agricultura deixando de ser a principal fonte de empregos no país.
Já no governo de Juscelino Kubitschek, o JK, tem início o estímulo à indústria dos automóveis, que por muitos anos foi nosso principal produto industrializado.
Com isso, a chamada educação politécnica (nome que se dava à educação tecnológica antigamente) ganhou cada vez mais espaço no cenário educacional brasileiro.
O SENAI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, criado em 22 de janeiro de 1942, é uma das iniciativas que surgiram com o intuito de qualificar a mão de obra industrial brasileira, cumprindo esse papel até os dias de hoje.
Já na década de 1970, surgem os cursos superiores de tecnologia em nosso país, mas foi com a LDB 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases, que regulamenta a educação brasileira) que houve um exponencial aumento dessa modalidade educacional.
No governo de Dilma Rousseff, surgem os Institutos Federais com os cursos tecnológicos que conferiam aos cursos técnicos um status de curso superior de curta duração (o chamado tecnológo), como uma extensão do processo de consolidação da educação técnica e tecnológica em nosso país.
Continue comigo para desvendarmos juntos o problema do déficit na formação de profissionais de TI no Brasil.
O déficit na formação de profissionais de TI
Mesmo com todo esse processo apresentado na seção anterior, a geração de mão de obra qualificada sempre esteve aquém do necessário em nosso país.
Com a transformação digital iniciada nos anos 90, quando teve início a IV Revolução Industrial, esse déficit tornou-se mais claro, e agora corremos contra o tempo.
Nosso país não construiu uma cultura em ciências exatas como os países asiáticos, a exemplo do Japão, da Coreia do Sul e da Índia, grandes exportadores de cientistas e profissionais de tecnologia.
Com isso, as coisas ficam ainda mais difíceis quando se fala em déficit de profissionais de TI.
Veja agora quais são os impactos do déficit.
Impactos do déficit
O déficit de profissionais de TI no Brasil tem vários impactos negativos no mercado e na economia, mas eu vou destacar três deles:
Menos investimentos no setor
Mais esforço exigido dos demais profissionais
Aumento nos riscos
Menos investimentos no setor
Com a ausência de profissionais qualificados da área de TI, diminui-se o estímulo para investimentos, já que a tendência é que as entregas tenham um nível mais baixo de qualidade.
Mais esforço exigido dos demais profissionais
Quando não há tantos especialistas na empresa, é necessário que os demais colaboradores “se virem nos trinta”, como dizia certo apresentador de TV.
Aumento nos riscos
Com a ausência de profissionais qualificados, os riscos aumentam, o que acaba aumentando os custos e, consequentemente, diminuindo a lucratividade.
Com isso, fica a pergunta: como solucionar esse problema? Vamos dar algumas sugestões.
Continue comigo!
Solucionando o problema
Existem algumas maneiras de amenizar os impactos do déficit na formação de profissionais de TI no Brasil em curto e médio prazos, e quem sabe resolver de vez o problema em um longo prazo.
Por parte dos próprios profissionais, é necessário que eles aprendam a adquirir habilidades generalistas, mesmo que sejam especialistas em um determinado nicho específico. Isso faz com que tal profissional seja cada vez mais requisitado, tornando-se peça importante dentro das organizações.
Outro ponto relativo ao aprendizado diz respeito às experiências práticas, ou seja, saber lidar com as complexas demandas do dia a dia através da própria prática. Em outras palavras, é aprender a trocar o pneu com o carro em movimento.
Esse ponto deve ser também uma preocupação tanto das entidades de ensino superior quanto das empresas de TI, que podem agir em parceria nesse sentido, tanto na graduação e na pós-graduação quanto na educação corporativa.
Grandes empresas têm atuado com a criação de grupos de usuários exclusivos, espécie de time VIP de usuários que podem ser uma boa fonte de resolução do déficit de profissionais de TI.
E por falar em educação formal, muitas empresas, sobretudo startups, têm apostado também naqueles jovens que ainda não fizeram uma graduação, seja por falta de oportunidade ou de maturidade, mas que demonstram possuir um fit cultural bem alinhado com a organização.
Nesse sentido, apostar mais em soft skills do que em hard skills, ou seja, contratando habilidades comportamentais e ensinando (ou financiando) o desenvolvimento de habilidades técnicas, é um bom caminho para driblar a escassez cada vez maior desse tipo de profissional no mercado.
E aí, gostou do texto? Fique ligado, pois daqui a alguns dias eu volto com mais artigos sobre educação, mercado de trabalho e tecnologia!
Mas antes de ir embora, eu te convido a assistir a essa masterclass sobre recrutamento de profissionais de TI.
Davi Valukas - Alpha EdTech
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